Nunca fui de grandes sonhos, é verdade. Aliás, só há alguns anos é que me vejo a sonhar com alguma coisa que não seja simplesmente o fim das aulas e o início do Verão e dos dias (bem) passados a venerar o sol e tudo o que ele proporciona. Com o passar dos anos, paixões vão sendo descobertas, objectivos algo irreais conseguem invadir o meu pensamento e é disso que se formam os sonhos: daquilo que me parece algo impossível agora, mas que talvez um dia consiga realizar e que sei que me faria uma pessoa mais feliz e realizada. E para isso é preciso sonhar em grande. Não estou a falar em ser a nova Oprah Winfrey (também não exageremos!!!), mas em objectivos que sejam mais do que chegar viva ao fim do mês. Tudo isto para dizer que eu achava que toda a gente era como eu, que podia ser pobre no bolso, mas não pobre em sonhos, porque é pelo sonho que vamos, já dizia Sebastião da Gama (e eu já o citei aqui).
Eis que fui a uma reunião onde era pedido que um conjunto de pessoas partilhassem os seus sonhos. Estas mulheres tinham entre 35 e 45 anos, mais ou menos (eu nunca fui lá grande espingarda a avaliar idades, mas enfim). O que é que eu esperava ouvir? Que queriam viajar até algum país em especial, que queriam escalar o Etna, que sonhavam ir em missão para África, whatever... não podia estar mais errada. O SONHO desta gente era algo tão infimamente pequeno que considero uma ofensa à palavra "sonho". Uma dizia que o sonho dela era pagar a casa e dar algum dinheiro aos filhos. Outra que queria fazer mais algum dinheiro para as contas não serem tão apertadas ao fim do mês. Outra queria ter emprego. Outra não tinha sonhos, de todo, o que para mim é ainda mais grave. Fiquei perplexa. Apenas uma pessoa dizia que, para além de pagar a casa (esse grande sonho, aparentemente...), gostava de fazer uma viagem à Tailândia. Caramba, mas o que aconteceu a esta gente? Sei bem que não devem ser as únicas. Será que vão para a cama e sonham "Ah, tenho a casa paga, já não quero mais nada da vida!!!!" ?!? O que é feito da grandeza de espírito? Temos de domar a carteira, mas não temos de domar o espírito!! Onde estão os verdadeiros sonhos? Aqueles que parecem tão irreais, mas ao mesmo tempo sabíamos que nos faria escandalosamente felizes, ou que no conjunto com outros sonhos, faria de nós alguém com o coração cheio? Onde está aquele sorriso absolutamente idiota que é suposto nos ficar na cara à mínima menção de certas ideias que são os nossos sonhos? Onde está o que nos move, dia após dia? Não está. Foi substituído pela pequenez a que nos obrigamos a vergar, por força das circunstâncias. Limitam-se vontades, resume-se estupidamente um sonho ao minimamente atingível, nem que seja aos 60 anos, devagarinho e que sirva apenas para vivermos ligeiramente mais descansados. Para mim, isso não é um sonho, é algo que dá jeito, nada mais. Quero uma casa de praia. Quero perder-me na floresta da Amazónia. Quero ver de perto os rios de lava do Kilauea. Quero fazer um interrail com os amigos. Quero encontrar a minha alma gémea. Quero viver até aos 75 pelo menos e conseguir contar as minhas histórias de vida aos meus netos. Quero sentir o sangue a correr-me nas veias, para saber que estou viva. Que me perdoem os pobres de espírito, mas da grandeza dos meus sonhos e do brilho que dão aos meus olhos, eu cá não abdico. Não me vou resignar à pequenez da minha existência.
6 comentários:
Sonho comanda a vida.
Pena que a ambição dessas mulheres tenha sido abafada pelas depressões financeiras/familiares.
elas podem não querer vergar e terem sido forçadas a isso pelos empurrões que levaram da vida...
Adorei o texto e tudo o que dizes é verdade, já que é para sonhar que seja em grande, é lógico que uma pessoa quer ter e pagar uma casa e ter dinheiro para os filhos, mas quando se fala em sonho é algo que deve ser grandioso :)
Esses teus sonhos podem ser todos concretizados. Luta, luta sempre.
Quero uma biblioteca com escadinhas. Quero aprender a tocar piano. Quero ir à China. Quero escrever melhor. Quero um baloiço no jardim. Quero surpreender-me e nunca perder a alegria de viver, sonhar, amar.
Gostei! É daquelas coisas que vou pensando algumas vezes. E é fácil perceber o que aconteceu a essas pessoas de que falas: foram atropeladas pela vida. Pela necessidade de terem um tecto, comida na mesa,trabalho, dinheiro para medicamentos, roupa, calçado, para pôr os filhos na escola...
Certamente que já foram como tu. E tiveram os mesmos sonhos. Mas às vezes, a necessidade fala mais alto do que a voz interior que nos ajuda a sonhar. É pena, mas acontece...
Prá frente com esses sonhos todos que tens dentro de ti. Faz por ir realizando alguns deles.
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