Era apenas um candeeiro, como tantos outros. Tinha a mesma idade que tantos outros na sua rua, mais ou menos a mesma aparência, a mesma camada de pó que, por acumular de anos e experiências, se foi deixando ficar por lá. Como todos os outros, tinha rachas na pintura, tinha zonas do globo onde a luz já não passava tão facilmente. O tempo tinha deixado as suas marcas. Mas ainda assim, havia qualquer coisa na sua luz, um je ne sais quois que a atraía. Ela, um mosquito como tantos outros, via naquele candeeiro uma luz que não encontrava nos outros, era como que hipnotizada por ele, ainda que soubesse que havia candeeiros muito mais brilhantes e com menos falhas que aquele, todos lho diziam. Noite após noite, esperava que o candeeiro acendesse e lhe desse um pouco da sua luz, ainda que ténue, esperando pacientemente que ficasse tão brilhante como sabe que pode ser, que já foi num dia não tão longínquo quanto isso. No dia em que o candeeiro já não se acendeu para ela, ficou a lembrança da sua luz e do encanto que ela exercia sobre si. Haverão mais candeeiros, como todos dizem. Mas aquele... foi especial.
3 comentários:
Gostei, boas metáforas. Há sempre mais candeeiros e com certeza até vão ser especiais noutras maneiras.
Não conhecia, mas fui procurar e gostei. Liga bem, sem dúvida :)
A luz que nos aquece é a mesma que nos queima, ilumina-nos e ao mesmo tempo cega-nos. É tudo uma questão de intensidade e distância.
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