18 de abril de 2012

Decisions, decisions.

18h20. Está atrasado, agora deve ser moda. Tudo na minha vida vai estando algo atrasado, mas desta vez é mesmo o comboio. Boa, finalmente chegou, e a porta mais próxima está a... 10 metros de mim, e mesmo em frente a uma multidão que embala a estrutura azul enquanto se atropela para entrar, como se da sua vida se tratasse. Depois de tanta espremidela humana, acabo por conseguir entrar. Obviamente, zero lugares vagos. Ou melhor, até havia um, mas ninguém se atreveu a lá sentar-se, que o tipo que estava em frente devia ser aparentado da torre Eiffel, o que significava que qualquer um teria de ficar em posição fetal se quisesse lá alapar o rabo. Quando a sentença ao calor humano (the bad kind), à falta de oxigénio e à conversa alheia parecia certa, coloco-me estrategicamente nas escadas, fazendo uso dos saltos altos para ter acesso a ar respirável e a conseguir ocupar um volume confortável de espaço. "I'm freeeee to be whatever I, whatever I like and..." chega-me aos ouvidos, vindo de uns phones à minha frente. A princípio, irrito-me. Esta deve achar que não se ouve nada. Típico mau feitio meu. Refreio a vontade de lhe perguntar se sabe onde está o botão do volume e para que serve. Mudo a minha própria frequência. Fico com vontade de lhe perguntar se tem resto da discografia ou se é só mesmo aquela música, é que eu também gosto de Oasis. Ela, quase como se me pudesse ouvir os pensamentos, muda a música para algo irreconhecível. Foi nesse preciso momento, enquanto o rio me passava ruidosamente à frente, que decidi que eu própria não iria fazer uso do meu mp4. O calor humano, o ruído e as gargalhadas alheias, tudo era exterior a mim. Nada naquela viagem dependia de mim, nem se apanhava um lugar sentado, se o comboio parava a meio da linha, se a senhora que se sentou lá a frente ocupava dois lugares com massa gorda ou se alguém decidia mudar a música que ouvia. Ali, o meu poder recaía apenas sobre mim, sobre os meus pensamentos e sobre a sua inevitabilidade. Perdi-me neste mesmo pensamento. Os ruídos e as decisões dos outros, o calor que emanam dos corpos cansados, tudo conta a história de quem são. Tudo o que era exterior a mim estava ali, bem defronte aos meus olhos. Tinha uma posição privilegiada, a de observadora incauta. Sentia-me numa ilha, isolada do mundo, como se ninguém pudesse aplicar o mesmo processo de observação a mim mesma. Ali, nada dependia de mim. Relaxei, ouvindo e sentindo o mundo decidir por mim. 

5 comentários:

Mariana disse...

Tinha saudades de ler assim textos teus.. Gostei bastante.. E o comboio é um meio de transporte fantástico!

Turtle disse...

Marianne, assim deixas-me sem jeito :P Obrigada!

S* disse...

Às vezes é preciso deixar-nos guiar pela vida...

Farruskinha disse...

Adorei o teu texto :)

Rafaela disse...

adorei!! muuito bom :D