Kindle |
Tal não é a minha ignorância nas lides tecnológicas que achava que um livro ou se lia em papel, ou quanto muito no computador (vá, no iPad também deve dar). Eis que oiço falar no Kindle, uma geringonça que serve para ler ebooks. E pergunto eu: onde está o encanto? Onde está o cheiro do papel, a textura, o folhear, o vento suave que as folhas levantam ao serem passadas? Onde está a noção do quanto ainda nos falta para ler? Onde?? Esta última, a mim, faz-me muita falta. Se for um livro que eu estou a gostar muito, especialmente. Se ainda faltar muito, fico feliz porque sei que ainda há tanto para ler, tanta história para ser contada, que não vou ficar sem "o brinquedo" no dia seguinte. Se já faltar pouco, serve-me para refrear o entusiasmo, racionar a leitura como se de um chocolate caro se tratasse, para o poder saborear a tragos curtos e intensos. Prolongar esse pequeno prazer. E se há a ejaculação precoce, também devia haver o final de leitura precoce ou algo do género. Porque se prolongamos tudo o resto porque temos noção do quanto falta para acabar, também temos de ter noção de que um livro é um livro, com toda a sua essência. Um livro podemos emprestar, podemos escrever dedicatórias na capa e oferecê-lo, podemos rasgar uma página e emoldurá-la, até podemos cortar os dedos nas suas folhas e dizer que aquela mancha de café na página 187 foi quando engolimos dois cafés para conseguir aguentar mais umas horas de olhos abertos para chegar ao final do livro. Um livro é o sinal dos tempos. As folhas amarelecem, as lombadas rasgam e dobram, apanham pó e o cheiro a mofo e renascem quando um neto decide soprar-lhe a camada de pó e ver o título. Os livros têm um encanto que nenhum ebook lido numa treta como o Kindle alguma vez terá.
Um livro quase tem alma.
5 comentários:
Concordo contigo em tudo (até na ejaculação precoce), só não concordo com o fim. O livro tem de facto alma. Tem muitas almas. A alma de quem o escreve e de quem o lê. Porque só uma coisa com alma podia tocar na minha alma, e poucas coisas me tocam como um livro o faz.
Já tinha visto essa palermice há uns tempos no telejornal. Achei ridículo. Um livro é um livro. Não um ecrã.
Eu não adiria a isso. Gosto tanto do cheiro de livros novos, de folhear, tanto modernizamos que acabamos por perder coisas fabulosas como essas.
Um bom livro tem alma. Por isso é que não quero essas modernices. Descreveste muito bem o prazer que é ter um livro na mão.
Eu continuo a preferir o papel...
Não consigo gostar... nada substitui o prazer de desfolhar um livro.
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